This is another unofficial site for Lav Diaz, "...the great Filipino poet of cinema." (Cinema du reel, Paris).

Monday, July 26, 2010

Evolucao de Uma Familia Filipina

Por Fabricio Duque

Apresentação

Conhecer o Cinema Filipino necessita-se de tempo. Há a preparação prévia do espectador. Nesse filme em questão, a duração é de 643 minutos, traduzidos em 10 horas e 43 minutos, divididos em 12 fitas mini-dv (mídia digital). A maratona começou às dez horas da manhã, no CCBB RJ, terminando 21 horas e 45 minutos, com intervalo de 40 minutos para almoço e 20 para o lanche, totalizando uma hora (sem exceder o tempo). Os organizadores não atrasaram a exibição, possibilitando uma viagem cinematográfica única, sem percalços e sem irritabilidades. Lav Diaz é o diretor desta epopéia. Na mostra, há outros dois filmes. "Melancolia", por exemplo, possui 441 minutos. É o cineasta dos épicos.

A opinião

O Cinema Filipino distancia-se do estilo cinematográfico comercial. Escolhe-se o alternativo, o independente. A experimentação pulula em cada mudança de cena, enquadramento, camera, enfim, em toda parte técnica, em interpretação e narrativa. O diretor privilegia planos longos, respeitando o tempo narrado. Objetiva-se o dia-a-dia real, com ações naturais. A camera aguarda, espera. Ora comportando-se como personagem, ora como observadora, deixando os personagens longes, quase como borrões de imagem, por causa do posicionamento da camera: de frente ao sol.

Há silêncios, não havendo a necessidade de utilizar o recurso da música para compor o trama apresentada. Com isso, o espectador absorve e questiona o valor do sentimento, com sutilezas aprofundadas das interpretações. Há a busca do amadorismo quando realiza a interação metalinguística. Comporta-se como um DOGMA 95, já que a iluminação é natural, muitas vezes escura, com sombras, com reflexo do fogo ou da luz da lanterna dos mineradores.

A saga da pobre família Gallardo, que vive em uma comunidade rural das filipinas. Sua trajetória serve como metáfora da história do país durante a imposição da lei marcial pelo presidente Ferdinand Marcos e o crescimento da atividade guerrilheira, entre 1971 e 1987. Enquanto as economias vão acabando, a família Gallardo, lentamente, se separa. O filme começou a ser feito em 1993, sendo realizado durante dez anos até ficar pronto.

A parte inicial da família vai aos guerrilheiros, que intercala imagens de arquivo de guerra contra o imperialismo filipino. Há digressões em saltos de narrativa, que explicam os integrantes da família. Entre sonhos, epifanias, realidades, futuros e passados, conta-se a história de uma dominação ditatorial. A trama não se apresenta de forma linear.

Demora-se um tempo para que se possa concatenar e juntar as peças de tudo. Leia-se algumas horas. Mas a lentidão é válida e extremamente necessária para o desenrolar de todas as questões. São várias histórias dentro de histórias que se juntam. Uma delas é de Ray, o bebê das formigas, encontrado "supostamente" em Manila. Outra é a mãe que não aceita a filha. "Ela trouxe má sorte, nunca poderei perdoá-la", ela diz.


Os personagens são retratados em seus crescimentos, erros e acertos. Há a humanização deles, os descrevendo como ingênuos naturais. Sofrem as mazelas da crueldade do mundo, das fofocas dos membros da própria comunidade e precisam lutar pelo pedaço de terra e trabalho, dentro de uma sociedade maior que dita as regras, favorecendo os próprios interesses. É a lei dos mais fortes. Mostrando que o trabalho permanece presente. Sem ele não se vive.

O rádio é um elemento constante. Por ele passam-se todas as histórias. Uns ouvem, outros participam. "400 pesos", é o seu preço. Os programas deste veículo abordam desejos, anseios, fornecendo a percepção que os problemas são iguais em qualquer família. A novela dramatiza a vida real. A conversa é quase narrada, brega, clichê, folhetinesca. É uma crítica a banalização do que se acontece no cotidiano. Entre uma escutada e outra, diz-se "O alho está ficando caro demais". Há o realismo conhecido, que busca a fantasia para alienar-se. "Qual o problema em ouvir histórias", diz-se sobre a imposição do "possível" certo.

É um filme político, que utiliza a metáfora para abrandar e folhear o que se quer transmitir. A cegueira de um, a ‘mudice’ de outro, o patriarca autoritário, a prisão real, as regras carcerárias, a busca por um mundo melhor e de novo o rádio. Há também a guerra, a violência, a obediência e a ordem. As vítimas e os sobreviventes não visualizam o futuro. As consequências: mortos e feridos. Em contra ponto, há a simplicidade das crianças brincando na praia e pulando corda, vivenciando o que se pode viver. Há o existencialismo sobre a vida de um inseto. Há referências que respeitam quem está do outro lado da tela.

Há profundidade nos personagens, que sofrem, expressando raiva e descontentamento de uma vida sem perspectiva. Expurga-se cortando madeiro, por exemplo. Não parece ficção. Os diálogos da cena entre a neta e a sua avó são reais, naturais, sem encenação. Eles acontecem por si só, como na própria vida, que segue. A colheita, a lama, lavrar a terra. Trabalho rural. "Não são burros, apenas cresceram em um mundo diferente", diz-se sobre jovens que não pensam como os mais velhos. De novo, repito, a construção da narrativa fornece realismo aos diálogos. Há cenas que acontecem. A dança e o canto em volta da fogueira. Há mineração e escavação. O longa passeia por todos os elementos épicos e destrincha formas de sobrevivência filipina.

O objetivo, questionado no próprio filme, é redescobrir o que é ser filipino. Quebrar os estereótipos. Há interação com um diretor de cinema fictício. Há making of do programa de rádio. Há experimentação de imagem em imagem. "Somos todos filipinos", diz-se em cenas de revoltas à ditadura, em meio a crises existenciais, culpas e resignações sofridas.

O recomeço. Espera-se lentamente a vida voltar ao normal. "Os tempos mudaram. Ficaram mais escuros", sobre a metafísico do escurecimento do dia às dezoito horas. Infere-se o lado sombrio do ser humano, cada vez mais embrutecido, em meio a cenas simétricas de imagens. Recomeçar vendendo pudim de soja. Há epifanias silenciosas. Há catarses melancólicas. Há a explicação explícita da proibição dos filmes e do Festival de Cinema do ditador. "Uma ditadura cinematográfica. Do roteiro à narrativa. O filme do Scorsese 'Última tentação de Cristo', foi proibida também". Busca-se a "liberdade dos cineastas". Há uma cena que pode ser considerada como a morte mais longa da história do cinema. Tudo pelo fim da militarização.

A vida continua. A espera também. As mesmas ações. O mesmo trabalho. É um filme de imagens, que retrata uma época, rica em seu material. "Perdas acontecem. Segue-se em frente da mesma forma. Muda-se uma coisa ou outra, mas é quase tudo igual", finaliza-se. Vale muito a pena ser visto. É um encontro sensorial em todos os aspectos. Recomendo.

O Diretor

Lavrente Indico Diaz é um premiado cineasta independente que nasceu em 30 de dezembro de 1958. Ele atua em diversas funções concomitantemente, como diretor, roteirista, produtor, editor, diretor de fotografia, poeta, compositor, ator e diretor de arte. É especialmente conhecido pelo comprimento de seus filmes, alguns dos quais chegam a durar até onze horas. Após trabalhar durante anos para a principal empresa produtora das Filipinas, a Regal Films, comandada por Mother Lily, Lav dirigiu em 2001 Batang West Side , divisor de águas em sua carreira e marco do cinema independente filipino. O filme foi o primeiro de sua trilogia Filipina, completada por Evolução de uma Família Filipina e Heremias . Seus dois últimos longas, também épicos de longa duração, participaram, com sucesso, do Festival de Veneza. O primeiro, Death in the Land of Encantos , ganhou menção honrosa na mostra Orizzonti em 2007, e Melancolia conquistou o prêmio principal no ano seguinte. Por toda sua trajetória, Lav é considerado o pai ideológico do cinema independente filipino.

From the blog vertentes do cinema, July 15, 2010

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